BEIRE

Flashs da quinzena...

1 - Cinco horas de "aula"... Calhou-me a mim levar o Nána às urgências do HPA - Vale do Sousa. Levei também a D. Marquinhas, acompanhada pela nova Directora Técnica, aprendiz de um vitalizante Estar-Com+nosco. E nós com ela. Tudo como a lei obriga e Deus manda. Para bem dela, de todos os que trabalham aqui e, sobretudo, para bem d'os nossos doentes. Ela, aprendiz de Estar-Com nesta instituição; nós, aprendizes de, agora, dirigidos por uma Directora Técnica. Instrutores uns dos outros. Para não cair na vulgaridade das obras semelhantes... É um alerta de Pai Américo. Tudo a cair bem nesta minha vocação de eterno Aprendiz de Vivente...

Lá, no HPA, gosto de parar-me a olhar aquela estátua de Pai Américo, na rotunda da entrada principal. Ali sempre há flores, velas acesas, provas de carinho - mesmo decorridos 63 anos depois da sua morte. Penso na história da vida d'aquele homem - sacerdote!...; naquele seu PER+curso - de empregado comercial até à declaração de suas Virtudes heroicas, que Roma acaba de anunciar ao mundo. Penso nessas pessoas seminais que passam pela vida deixando rastos de sementes da Boa Nova anunciada pelo Carpinteiro de Nazaré. Esse de Quem Pai Américo tanto gostava de falar. - É a Boa Nova do filho do Carpinteiro, do Homem da História. Porque da Divindade eu não sei falar. Não sei nada. Sou um pecador de sete vezes ao dia...

Ai o que eu aprendi naquelas cinco horas que por ali andei, de Anás para Caifás. À espera que me dissessem que o Nána ficava ali. E, porque a D.ra teve de ir a Casa, fiquei eu também com D. Marquinhas. Ai o que eu aprendi. Do que vi. Do que ouvi. Do que pude pensar/sentir. E, mais ainda, do que tomei consciência de que preciso aprender para acompanhar bem um doente ao hospital. Os hospitais são uma boa escola para qualquer aprendiz de vivente. Para qualquer aprendiz de voluntário da saúde... Por ali acontece de tudo - com sabores a flor de trigo e com os amargos do joio que infesta esta seara humana (Mt 13, 24-30).

2 - ... Droga NO, amizade SI... Enquanto espero que passem aquelas cinco horas de aula, registo o que vai acontecendo à minha volta. Mai-lo que acorda dentro de mim. A médica que, apressada e de mau humor, quer saber porque é que levamos o Nána para a urgência e não foi para o ambulatório... Lê a carta do médico que nos mandou para ali. Cai na conta de aquele doente sofre de uma data de deficiências; não tem família - eu estou ali como um voluntário. Apercebe-se da urgência de tratar d'aquela infeção urinária.

De imediato, a tecnopata de circunstância vira mãe extremosa de um filho de ninguém. Incansável. Para ele e parar mim - que teria de o deixar ali. Sem ninguém, a não ser os cuidados (técnicos e humanizantes) do pessoal de serviço.

Lembrei a última ida ao Grupo de Jesus e à Escola de Espiritualidade, em Santiago de Compostela. Lembrei um grafite, numa parede já bem grafitada, a caminho da Catedral - droga no, amizade si. NÃO à droga, SIM à amizade. Lembrei as conversas que um tal grafite desencadeou sobre os hospitais. Falávamos de uma cubana que, nos seus tempos de menina e moça, se radicou por ali como professora de ballet. Envelheceu sem ninguém. Com a cabecita a delirar em mordomias que já não comporta. Antigas alunas arranjaram-lhe um apoio domiciliário e lá se vão revezando para a não deixar assim pobre e abandonada. Vão ali para lhe fazer um bocadinho de companhia; cuidar de algo mais (tão necessário, às vezes) que um serviço público não faz - porque não pode fazer. - Olhe que até a senhora da limpeza, sempre que pode, para ali, cheia de paciência, para a ouvir, para lhe adoçar o bico...

Rematávamos a conversa e alguém concluía: - Deus também mora nos hospitais. Fiquei a ruminar: mora, pois! Sempre à espera de umas mãos que queiram ser as Suas, à espera de uma boca que aceite dar-Lhe vez e voz, à espera de um coração que O acolha para Ele poder fazer d'as Suas...

3 - Já chegou a scooter para P.e Rafael. Que o Calvário está vivo já ninguém duvida. A abrir-se a novos horizontes. E a crescer em resiliência. Hoje mais que ontem. Sente-o quem por cá anda. De coração aberto - para ver mais longe... Coisas tão simples como isto: rara é a semana em que não apareça alguém - por carta ou presencialmente - a perguntar como vai Pe Rafael? Gente que só o conhece através d'O Gaiato. - Ai, Deus o ajude a recuperar depressa! A Obra da Rua precisa muito de Padres Novos. E ele faz tanta falta!

Muitos deixam uma migalhinha para a scooter do P.e Rafa. Mando 200€. 100 são para a Obra da Rua e os outros 100 para a scooter; mando 90€. 5 são para pagar O Gaiato e o restante para a scooter; podem comprar, que eu boto uma mãozinha. Tudo óbolos de viúva, como naquele tempo. Naquele tempo do Carpinteiro de Nazaré; naquele tempo de Américo Monteiro - presbítero, que fez sua a Boa Nova d'Aquele homem da História, que via nos Pobres os filhos prediletos de Abba, pai / mãe dos que sofrem a opressão d'os malignos deste mundo...

Um admirador