BEIRE

Partilhando SONHOS e PRE+ocupações

1. As bênçãos d'uma cadeira de rodas... Estávamos à mesa e a conversa decorria à solta. Para não variar, eu vagueio; qual gaivota que agarra o peixe e foge do bando... Este é um dos meus muitos "pecados" - frutos "pecos", nos meus relacionamentos. Mas, se já for um pouco tarde para eu melhorar, ainda não desisti de me despiorar... Entretanto, poiso e dou-me conta de que a conversa me interessa deveras. Pareceu-me que P.e Rafael (...não ten(ho) mesmo vocação para eremita!...) dizia que "se tivesse uma cadeira de rodas capaz..." Porque me sinto chamado aqui para, na pobreza das minhas pequenas tarefas, ser útil ao Deus da Vida nesta passageira vida de Deus-com-os-homens-por-Ele-amados, meti-me na conversa. Sei que ninguém salva ninguém. Tal como ninguém se salva sozinho. Mas acredito que todos podemos salvar-nos, se nos dermos as mãos entre todos e fizermos com+UNI+(nh)ão com o nosso Deus-Amor (Abba!)

Puxei o filme atrás. O sol já estava alto. Andávamos no arranque das batatas e... Toca um tlm. P.e Fernando atende e o seu tom de voz e a expressão facial adensam-se anunciando tempestade. - P.e Rafael teve um acidente, perdeu a consciência, não sabemos o que terá acontecido. Esta foi a explicação que P.e Fernando, bom apanhador de batatas, nos deu ali em pleno campo-da-porta, onde as batatas eram. Falamos em riscos de coma... Pouco tempo depois, ainda nós éramos no campo, o tlm volta a tocar: - Parece que não terá sido tão grave como temíamos; já falou; de cabeça está bem; está a ser operado agora e...

Dias depois, com os cuidados que uma fractura de pernas sempre pede, a TAP e afins deixaram P.e Rafael connosco aqui no Calvário. Curioso é que, uma ou duas horas antes de ele chegar, já o seu irmão Diogo, com a esposa e dois filhos jovenzinhos, chegaram aqui para ver o irmão... Fizeram cerca de oitocentos km para chegar. Mas queriam saber se aqui teria as condições necessárias para... Passaram connosco o tempo bastante para se aperceberem d'o que é o nosso Calvário. Viram. Ouviram. Tiraram as suas conclusões. - Isto aqui é uma outra família para ele. Assim já vamos descansados. Viemos dizer-lhe que, em Zaragoza, ele ainda tem uma família que se dói por ele... Também nós vimos isso. Alegramo-nos de sabê-lo. Ver uma família de sangue feliz porque o seu irmão soube conquistar também uma família do coração que agora está a cuidar dele como se de sangue se tratasse.

As pernas pedem repouso, por um tempo ainda indefinido. Mas aquele coração não deixa de amar os que dele precisam. Todo ele agora é ânsia de fazer aqui o que P.e Fernando lhe confiou ao aceitar ir para Malanje. Substituí-lo. Até que... Compreende-se que sinta a falta de uma cadeira de rodas capaz. Quer ir ver. Ouvir localmente e acompanhar de perto. Para poder ter opinião fundamentada. Fiz minhas as preocupações dele.

2. Ainda antes da cadeira de rodas... Mesmo sem ter falado com ninguém da Obra, liguei a amigos comuns. Precisava de quem me ouvisse, sonhasse e pensasse comigo. Alguém mais entendido destas coisas. Porque os meus mundos nunca navegaram por estas paragens. - Isso aí ainda não tem condições para... Cheguei a falar muitas vezes com P.e Baptista sobre essa necessidade. Era de prever. Naquele tempo não havia cadeiras de rodas e o paralelo de granito até fica bem. Agora, há que conciliar a estética e a mobilidade exigida pelas circunstâncias. Porque hoje é P.e Rafael que precisa. Mas já tivemos aí P.e Manuel António e temos de olhar para a frente. P.e Telmo ainda se vai movendo, mas...

Gosto destas vozes de esperança: - Se a Casa precisa, nada é impossível. Vamos para a frente. Os amigos são para as ocasiões...Porque, nesse chão de paralelo de granito, não dá. Nem para as cadeiras de rodas que andam por aí. Os doentes não podem sair nelas... Compreende-se o P.e Rafael agora precisa. Mas há que providenciar um trilho, ao lado ou ao centro dos arruamentos existentes. Sem quebrar a beleza desse conjunto maravilhoso e original que P.e Baptista criou.

3. O coração vê clarões de esperança... Fecho os olhos e deixo-me ficar. Passam diante de mim muitos nomes de amigos do Calvário e amigos destes homens e mulheres que, impelidos pelas loucuras do Evangelho, arriscaram perder a vida (Mc 8, 35) na esperança de ganhar/dar Mais Vida e Vida em abundância (Jo 10, 10).

A começar pelos mais recentes, olho o livro de recibos, que sempre passamos acusando os donativos aqui entregues. Nada que nos diga que o dinheiro já está no cofre. Não senhor. São 30 de Cascais; 350 de um trintário, de Paredes; 130 de Fiães; 500 da Seroa, PFR; 250 de Lisboa; 30, da Senhora da Hora; outro tanto, também da mesma terra; ainda mais 130, de Fiães; 250, de nome que só Deus sabe; 150 da Suíça; 600 de Alcobaça. É certo que, numa lista já amarelecida que P.e Baptista nos deixou, há muitos nomes que nunca mais vimos. É natural, porque a vida não perdoa. Mas sempre há novos nomes a dar força à fraqueza da nossa Fé. Podemos já não ser muitos, mas vamos ser o suficiente para dar a este nosso glorioso Calvário do passado um pacífico presente que possa lançar raízes para o futuro que não para de chegar...

Um admirador