BEIRE
Flashs da Quinzena
O nosso P.e Telmo nas "mãos de buda"... Depois daquela festa toda, dormi tão bem que, no Domingo de manhã, como diria o salmo 108, 2, até quis ir acordar a aurora... Todo eu era acção de graças cá por dentro: Os Teus carinhos para comigo, Senhor, são mais numerosos do que os grãos de areia do deserto. São 06:10h da manhã e o sol, vindo ali de Castela, por detrás das serras de Valongo, já anuncia a sua chegada. Um nascer do sol, digno dos relatos do nascer do sol em África. Lembro uma experiência que P.e Telmo refere muitas vezes: - Recebemos o convite e julgamos que íamos ver um filme... Só imagens do nascer e pôr-do-sol! Que coisa maravilhosa! A casa estava cheia e o silêncio era de cortar à faca. Como se de um empolgante filme de acção se tratasse. Nunca mais esqueci.
Chego às minhas hortas. Passo pelos chuchus, fizalis, maracujás, araçais, fajoas, chá príncipe, hortelãs, cidreira, parietária, ... Vou directo aos meus limoeiros. Hoje, os meus cuidados centram-se no mãos de buda (1). Foi uma oferta que, vai para dois anos, o Horto de Creixomil fez a P.e Telmo e ao Calvário. Porque nenhum de nós conhecia tais maravilhas de Gaia - a nossa Mãe Natureza.
O ano passado brindou-nos com um exemplar único, que andou por aí de mão-em-mão, com a pergunta quem é que sabe o que é isto?! E o gozo egoico de um ninguém sabia e eu sim!... Este ano, fraquito, ainda deu algumas floritas, mas tudo caía sem promessas de futuro. Tomo consciência do meu pecado. Porque não tinha cuidado dele como merecia e precisava. Impus-me, como penitência, prestar-lhe todas as atenções de uma mãe para com um filho doente...
Estou a ser recompensado. Hoje já tudo é esperanças de... Um boa meia dúzia de mini-mãozinhas de buda em que podemos ver já os dedinhos formados, etc., etc.. Lembro uma questão levantada pelo nosso Prof. Doutor Henrique Manuel Pereira. Foi ali debaixo das nossas seculares carvalhas. À volta da mesa, durante uma sardinhada - lanche ajantarado! - depois da Solenidade Eucarística. P.e Telmo estava sentado à nossa frente, silencioso e sorridente, com uma flor ao peito, abraçado pelo Nána, também silencioso e contemplativo. Uma flor de cera, que o Fernando, a correr, foi buscar, fresquinha, para oferecer a P.e Telmo. Um quadro digno dos seus 68 anos de Padre. - O que é que fará com que este homem atraia assim tanta gente?! Porque, nele, não se lhe vê nada de especial.
Porque é uma questão que a mim mesmo me ponho muitas vezes, disse coisas de circunstância. A fazer conversa com o Henrique. Mas hoje, enquanto cuido o limoeiro e me regalo a sonhar o que já se vê, em promessa, naquelas mini-mãozinhas de buda, dou comigo a ruminar: P.e Telmo é assim porque sempre cuidou do seu Eu Profundo. Esse Eu Verdadeiro, esse Eu Autêntico que, no mais fundo de cada um, qual eco da presença ignorada de Deus em nós, sempre nos chama à Unidade ("Eu e o Pai somos UM e vim para que todos sejam UM" Jo, 30). Esse Eu Escondido, tantas vezes abafado pelas mil e uma tentativas de domínio subtil dos nossos ego(ismos), ego(centrismos) que, levados por uma crónica cegueira emocional, não vêem para lá do próprio umbigo... Porque, de sua natureza irracional, só pensam na satisfação imediata de suas necessidades egoicas.
Do que vou sabendo, a somar ao que vejo em cada dia aqui connosco, P.e Telmo sempre cuidou dessa Voz Interior que, no mais fundo de nós, sempre chama à Comunidade, à Fraternidade e à Reciprocidade, em comunhão amorosa. E, hoje mais do que nunca, ainda cuida desse jardim secreto de cada um a que chamamos vida interior e que, em cada dia, nas diversas circunstâncias, sempre chama por nós, com suas necessidades e exigências próprias. Coisas que, hoje sabemo-lo melhor e já com aparatos de explicação científica, quando faltam de forma acentuada e persistente, levam à tão propalada angústia existência. Típica da falta de um sentido para a vida, que nunca falta a P.e Telmo.
1 - Se ainda não viu nenhum limão desta raça, vá à net que, em imagens e texto, logo lhe dá uma ideia...
Um admirador