BEIRE

As "aleluias" voltaram ao Calvário

Sorrisos de Deus para os homens... Hoje é Domingo. Na Liturgia da Igreja1 é o "Domingo Laetare" - Domingo da Alegria. Uma pausa para a alegria, a quebrar os rigores da Quaresma. Ontem, depois de jantar, tive de ir ao Porto. Era uma Assembleia Geral da Voades Portugal, sucedânea do Telefone da Esperança, uma das meninas dos meus olhos. Porque já não estou em idade de grandes noitadas, fiquei em minha casa. Hoje de manhã cedo, corri para o Calvário. Gosto da Oração da Manhã, orientada pelo Nana, e do tomar o pequeno almoço com eles. Quando cheguei o sol já raiava. Mas ali o Silêncio de Deus e a calma da Mãe-Natureza ainda cheiravam a madrugada. Porque tinha mudado a hora e o sonito pesou sobre a comunidade... Aproveitei e fui banhar-me na beleza das aleluias que, em sua típica brancura, esbordam alegria sobre aquela avenida. Essa que, atravessando a mata, liga o Calvário à avenida dos Rapazes. Elas, as aleluias, são tantas que, para além da avenida, ainda se espalham por muitos recantos da quinta. Senti-me um privilegiado. Uma verdadeira experiência do caminho de Emaús em que o coração é grande demais para um peito tão pequeno (Lc 24, 13-35). Aquele poder parar, ver, tocar. Ouvir o mistério do Silêncio de Deus a falar aos homens. Ouvir essa fala que acorda em nós toda a Essência do nosso Ser Profundo — residência ignorada do Deus Bondade, Beleza e Verdade. Nosso Ser Profundo — como que uma réplica perfeita do seu Criador. Imagem e semelhança d'Aquele que nos fez do barro para nos tornarmos diamantes preciosos que concentram e irradiam toda aquela Luz que este Domingo Laetare quer acordar em nós. Porque a Ela somos chamados. Para dissipar as trevas que vão roendo tantos dos que, penso que por ignorância, teimam em viver afastados d'Ela. Avanço avenida fora. Nesta festa de aleluias ouço/vejo uma fala que me interpela, através desta linguagem misteriosa do encantamento que se apodera de mim. Que bom ser(mos) assim uns seres de maravilha. Em quem, como em Maria, o Senhor faz maravilhas. Porque Santo é o Seu nome (Lc 1, 39-56). Poder distinguir, entre aquelas florinhas, as singelas e as dobradas. Redobrando a sua beleza. Lembrei aquela do poeta que via nas flores um sorriso de Deus para os homens.

O Luís vem chamar para Laudes... Estava com saudades das aleluias. O ano passado, para fortalece-las, levaram uma rapadela que quase as deixou mudas. Só uma ou outra arribou a tempo de florir. Isso fez com que a Primavera acusasse a sua falta. Este ano sim. Apeteceu-me ter de novo connosco o sr. P.e Baptista. Muito gostava ele de, depois de darmos o almoço aos doentes, levar-me a descobrir a mata, em sua inesgotável novidade em cada nova estação. Hoje, apetece-me convidar muitos dos nossos amigos e leitores. Talvez gostassem também de vir até aqui, para com+TEMPL+ar esta lição do Amor. Um Amor que espirra deste Templo de Deus que toda a Natureza é. Para crente e não crentes. Para sábios e ignorantes. Para ricos e pobres. Leitores ou não do Famoso. Porque junto de Deus não há acepção de pessoas (Act 10,34).

Antes que o reboliço comece a apanhar-me, por fora e por dentro, corro a registar tanta vida que pulsa em mim. Encontro-me com o Luís. Um desses poucos jovens que, nos dias de hoje, ainda tem tempo para, perdido no trabalho entre os rapazes e os doentes, dedicar um bocadinho do seu tempo a escutar a eloquência do Silêncio de Deus. Frequenta o 3.° ano de Teologia e está ligado à Diocese de Bragança — que já nos brindou com P.e Telmo e P.e Fernando. Porque gosta de música, parece ter assimilado bem o alerta daquele cântico de P.e Zezinho: Se ouvires a voz de Deus... A voz do vento... A voz do mundo... chamando sem cessar... A decisão é tua.

– Às 09:00h vamos rezar Laudes? pergunta-me ele. Fui. Hoje já somos cinco a rezar a Liturgia das Horas. P.e Fernando, P.e Telmo, D. Lúcia, Luís e eu. Nos seus dias de Voluntariado, ainda se juntam a nós o Luís Amaral e o Pacheco. Também "isto" tem, para mim, um precioso sabor de aleluia. Na "Leitura Breve", (Ne 8, 9b.10b), deparo-me com esta sábia exortação: "Hoje é um dia consagrado ao Senhor, nosso Deus! Não vos entristeçais nem choreis, porque é um dia santo do Senhor. Não estejais tristes, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza". Sinto como que uns laivos de alegria cognitiva... Afinal, já sei de onde me vem, já em idade avançada, toda esta genica de que tantos se admiram — a alegria do Senhor é a vossa fortaleza. Torna-se-me claro que preciso manter-me ligado à Fonte de onde jorra para mim todo este manancial.

Terminadas as Laudes, volto ao computador. Gosto deste parar-me a ouvir, registar e alimentar os ecos interiores que me alimentam... Encontro-me com o mundo das aleluias dos nossos BEM+feitores... Esses que, com a fidelidade dos Justos de Deus, não se deixaram corromper pela malária que caiu sobre esta Casa. São os 150€ mensais da Suíça; os 130, da Vila da Feira; os 50, de Lisboa; os 41,80, da Maia; os 20, de Penafiel; os 10, de Lousada; e mais, e mais em que a mão esquerda não sabe o que faz a direita...

Um admirador