BEIRE
Um Calvário sem "transcendência"?!…
Rumino: mais alguns meses! Para que nos reconheçam como já licenciados para o efeito. Um efeito que, no caso do nosso Calvário / Beire, não é com certeza o mesmo dos licenciadores. Porque o nosso efeito não é só uma residência ou um apoio social (ditos de melhor qualidade) para os "carenciados sociais". Não. O nosso efeito também é isso, mas pede ainda mais. Pede toda a fidelidade a um carisma1, legado por Pai Américo: "O Calvário! É um nome tirado do Evangelho. (...). Fazem hoje falta no mundo estes nomes, estas ideias, estas Obras humanas de sabor divino. Um lugar onde cada paciente leve, sim, mas não arraste a sua cruz dolorosa". Aclaro-me: O que está em causa não é só a fidelidade a Pai Américo. Morreu há sessenta e três anos. E, entretanto, a sociedade evoluiu. E nem tudo é mau nessa evolução. Antes pelo contrário. Há muitos valores novos que, sem confessarem isso abertamente, foram beber à mesma fonte - o Santíssimo Nome de Jesus, a quem a Obra da Rua está dedicada.
O que aqui está em causa é a fidelidade à Fonte de onde Pai Américo bebia e pela qual se sentia impelido (sic). Para fazer o que fez, naquele tempo. Com uma palavra nova, em matéria social. Impelido a dar a vida por aqueles a quem, na sociedade de então, a vida lhes era negada de tantas maneiras. E, hoje, digam lá o que disserem as autoridades que tanto gostam de falar do que não entendem: para muitíssimos casos - os das periferias, que são tantos!... - o Estado, apesar da grande evolução social, ainda não encontrou uma resposta condigna.
ISSO de uma "resposta condigna". O Estado não tem nem pode ter. Porque não é da sua conta. Uma resposta (RES+posta) capaz de respeitar o homem integral. Capaz de respeitar aquela d'IGNI+dade própria dos filhos de um Rei-Servidor. Devorado pelo fogo (ignis!) do amor pelos últimos (Mc 10, 35.45). Esse Rei - Príncipe da paz! - que, ainda vive no actuar dos Seus seguidores e lhes proporciona uma Paz, uma Alegria e um Bem Estar que segurança nenhuma deste mundo pode assegurar (Jo 14, 27-31). Porque, no Estado, o que hoje é assim, amanhã já é assado. E todos os Estados estão pendentes de um Orçamento de Estado e de milhentas pressões a tentar levar esse orçamento nesta ou naquela direcção - tantas vezes maculadas pelos interesses mesquinhos de pressões ideológicas e/ou económicas.
Ora Cristo Vivo, no actuar daqueles que O seguem impelidos pelas mesmas loucuras do Evangelho, (Pai Américo!) não tem orçamentos... Como todos os outros cidadãos, Cristo Vivo paga o que tem de pagar. Não foge a impostos (Mt 17, 24-27) nem cede a pressões. Só conhece a pressão d'as periferias, onde agonizam os últimos, que Ele sempre olha como os primeiros no seu projecto (PRO+jecto!) de atirar para a frente! Para uma sociedade onde também Deus possa reinar. Onde César tenha o que é de César e Deus tenha o que é de Deus (Mt 22,21). Sem ninguém a oprimir ninguém. Por isso Cristo é de ontem, é de hoje e é de sempre.
Tão verdade o que hoje mesmo ouvi cantar na Celebração da Eucaristia: Não podemos caminhar com fome e sem amor... Verdade que nenhum homem vive sem pão. Mas continua a ser também muito verdade que nem só de pão vive o homem... Qualquer homem. Qualquer cidadão - dos que fogem aos impostos e dos que cumprem com as suas obrigações. Conscientes ou não de que os nossos impostos são para dar vida ao Estado, de que todos necessitamos.
Venha-se lá de que confissão religiosa se venha, (o homem é um animal religioso), o certo é que, em certos momentos da vida (que sempre anda e desanda,...) todos precisamos d'essa(s) Palavra(s) que dá(ão) Mais Vida e Vida em abundância (Jo 10, 10). Precisamos. Todos. Sobretudo quando no seu andar e desandar, a vida chega mesmo a tresandar o impossível.
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1 - Dou aqui à palavra carisma não o significado comum de "coisa" (graça?!) que dá a um e não dá a outro... Não senhor. Aqui, carisma quer dizer: Pegar num dom que Deus dá a todos e pegar nele e desenvolvê-lo para o pôr ao serviço daqueles que mais dele necessitam.
Um admirador