BEIRE

"Heroínas do bem e do belo!"…

... Palavras e mais palavras!... Gosto de ruminar os livros de P.e Telmo. Tudo neles esguicha para "novos céus e uma nova terra" (Apl 21, 1). De muitas formas diferentes, mas tudo o que escreve (ai os "SINAIS"!...) empurra para essa inquietante "utopia da humanidade". Uma velha "utopia" que Jesus de Nazaré já recebeu dos "livros sagrados" (ela paira em toda a Bíblia!) e nela foi educado. E a que, depois, deu a máxima expressão ao proclamar a chegada, já próxima, d'O Reino dos Céus / Reino de Deus... Um mundo em que Deus (Bondade, Beleza, Verdade) possa reinar-servindo... "O Filho do Homem (o Ser Humano!) veio para servir, não para ser servido"(Mc 10, 32-45). Sem deixar ninguém fora desse Reino de Amor e Justiça. Porque "sem Justiça, não há Paz, e sem Paz, não há Amor", insistia Pai Américo.

Encanta-me descobrir convergências. Porque tudo o que converge cresce. E é assim que gosto de ler esta velha utopia que, ressumando uma cultura judaico-cristã, entrou no Ocidente através do latim e, hoje, através do inglês, começa a entrar na nossa laicizada cultura moderna, escondida em fórmulas que já correm mundo: The Common Good of Humanity [O bem comum da humanidade] e/ou The Common House of Humanity [A casa comum da humanidade].Sei que este paralelismo parece pouco "ortodoxo" aos nossos "mandalas mentais" que nos encarceram ainda em culturas passadas — a judaico-cristã, a islâmica, a indú... A demonstrar limitações que nos impedem de abraçar — acolhendo - esse doce mistério do real que sempre nos puxa e/ou nos empurra para Mais Além.

O comboio Celta é-me inspirador... São 08:15h da manhã. Sigo para Vigo, no velhinho Celta, que liga Campanhã à vizinha Galiza. Levo comigo As Abelhas e o Mel, o último livro de P.e Telmo, que encheu de festa o dia dos seus 93 anos. Na pg 36, esbarro com este versinho: (As abelhas) Heroínas do bem e do belo. Incendeia-se-me a mente. Desce ao coração. Salta para o papel. É o nascer desta crónica. Na lição das abelhas, vejo a Obra da Rua que, porque velhinha de 70 e mais anos, é preciso RE+fundar — na feliz expressão de um grande homem do Direito, amigo e admirador desta obra ímpar. E vejo também os, já mais novitos, apoios estatais que dão pelo nomes de serviço social. Nascidos na mira de que, na sociedade, ninguém fique de fora. Porque "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos; dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade". É o 1º art da Declaração dos Direitos Universais do homem. Alegra-me também o pensar que todos estes avanços da Ciência e da Política sociais têm, na sua pré história, o nome de Obra da Rua. Uma "palavra nova" que, na década de quarenta, acordou Portugal inteiro para os problemas sociais de que, pelos vistos, até então era "proibido falar". Porque nisto também Pai Américo foi pioneiro. Empurrado / "imbuído" pelo Espírito do Evangelho ('coisa' já quase desconhecida...), foi tangendo Portugal inteiro para a frente. "Eu estou a remediar", gritava ele às autoridades do tempo, quando lhe diziam que "em matéria social, aquilo que não se pode remediar, também não se pode falar". Ouço a sua voz firme e ousada: — Alto lá, Senhor General. Eu estou a remediar. Eu falo para
remediar!

Aprender a "revisitar os conceitos" de e de e de... Recordo ensinamentos que recebi. Têm-me sido muito úteis ao longo do meu peregrinar por esta vida que me cabe viver. Trabalhava eu com a toxicodependência — esse vírus indomável que ameaça, forte e feio, todo o tecido social. Nessa altura, fixei que "todas aquelas pessoas que têm por missão lidar com pessoas deveriam, periodicamente, RE+visitar os seus conceitos de Pessoa e de Ajuda". Foi uma luz que se me acendeu. E que jeito me tem dado! Hoje, alargo essa ideia a coisas como o voluntariado, a religião, o amor, a saúde, a educação, o serviço social, etc.. Para se manterem vivos. E não correr o risco de cair na alçada daquela questão que o Mestre pôs aos letrados e fariseus d'aquele tempo: — ... O Homem não é para o sábado... (Mc 2,27). Urge estar atentos. Porque são áreas em que é perigoso cristalizar, e cair nos radicalismos da Lei e/ou dos Profetas, ignorando os avanços que a vida lhes vai impondo.

Ora, analisando bem o evoluir da vida, mesmo em termos visíveis e palpáveis, sempre nos ressalta que tanto o sábado (o Estado com suas leis) como o homem (esse irrequieto, sempre insatisfeito, que não cabe em camisa de forças...) não podem subsistir sozinhos. São como que cara e coroa um do outro. Irmãos siameses que não podem sobreviver separados. Por isso é que Jesus, o irrequieto e inquietante Nazareno de há dois mil e tantos anos atrás, ainda está vivo. Para inquietar. Para continuar a dizer-nos que nem a Lei (o Estado, com seus Serviços Sociais) nem os Profetas (o homem livre, com sua ânsia do bem e do belo), são para abolir, aniquilar e/ou maltratar. Porque todos somos aprendizes de instrutores uns dos outros. - "Não vim para abolir... mas para completar" (Lc 24, 44). Diz-nos a Fé que Ele veio - e vive! - para despertar Heróis e Heroínas, quer no mundo d'as Leis quer no mundo d'os Profetas. É a eles a quem compete, cada um no seu campo, cuidar d'o BEM e d'o BELO, para que o ser humano cresça e viva.

Um admirador