BEIRE
No rescaldo dos 130 anos de Pai Américo
Quem foi/é este Américo Monteiro de Aguiar (A.M.A.)? O fenómeno humano da comunicação seduz-me. Desde há muitos anos que criei para mim próprio a sigla C. T. A. da Comunicação. Porque entendo que a comunicação é mesmo uma Ciência (coisa que pode/deve estudar-se), é uma Técnica (coisa que precisa treinar-se, para se ir aprendendo) e é também uma Arte (coisa que, em cada um de nós, sempre está a criar-se, num incessante recriar-se, e sempre assume um carácter pessoal, único e intransmissível). Curioso também é que, das primeiras coisas que me lembro ter memorizado de Pai Américo, é isto que, volta e meia, gosto de referir: O homem, naturalmente, gosta de dar-se. Comunicar-se. Ser útil. O homem só é um doente. Não ama. Explora. Já lá vão mais de 60 anos que este pensamento, com um encanto e uma actualidade sempre crescentes, funciona em mim como um programa de vida. E também como uma preciosa grelha de leitura de muitos dos nossos comportamentos observáveis — quer em mim próprio, quer nos que me rodeiam.
Porque gosto de brincar com as palavras, gosto de brincar também com o tempo e o modo dos verbos. Daí que, no tal encontro da U. Católica de 21.10.17, tenha começado assim: "Não sei se quando, há 130 anos, nasceu Pai Américo, houve alguém que perguntasse "Quem virá a ser este menino" (Lc 1, 57-66). Não sei se alguém perguntou. Mas sei que, ainda hoje, há muitos que se perguntam como eu me pergunto: — Quem foi / Quem é este Américo Monteiro de Aguiar - Presbítero, como reza o epitáfio da laje tumular da sua campa rasa, na capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, ao lado do altar? O que fez ele / O que faz ele - para que estejamos hoje aqui?
E, no meu caso particular, a minha grande questão: — Quem é Pai Américo para mim? Que peso tem ele, hoje, na minha vida actual, já octogenária?"
Alguns dados que me dão que pensar... Posta assim a questão, partilhei com aquele público alguns dados já aqui referidos. Gosto de enfrentar os mistérios da vida. Porque acredito que o mistério não é para ficar enterrado no desconhecido. Tal como no Amor (que também é um grande mistério...), vale para aqui aquele princípio do "hoje mais que ontem e menos que amanhã". Isto é, o mistério está ali, velado ainda para nós, mas sempre a espicaçar-nos para o irmos des+velando, até que se nos revele, naquilo que podemos lá chegar. Progressivamente. Porque, sendo nós seres misteriosos, a nossa missão neste mundo, como aliás fez Jesus de Nazaré, é irmo-nos descobrindo ("Quem sou eu?"...) até chegarmos ao "Eu e o Pai (eu e o Mistério!...) somos UM e eu vim para que todos sejamos UM com o Pai" (Jo 10, 30). É que, digo-vo-lo já com algum saber de experiências feito, nessa busca pode encontrar-se uma fonte gostosa e inesgotável de mais vida e vida em abundância (Jo 10, 10).
Vamos, então, recordar algumas datas que, hoje, olho como mais significativas:
Bom. No meio de tantas coincidências* e interrogações, vieram mais estas duas: a) A não sei quantos de Abril de 2015, P.e Baptista telefona-me a ver se eu podia chegar a Paço de Sousa. Ele e P.e Júlio queriam falar comigo. Fui e, penso que por uma reacção quase automática e inconsciente, sem saber bem o quê, aceitei o desafio de "botar uma mãozinha" no Calvário / Casa do Rapazes enquanto P.e Baptista se via forçado a ausentar-se. Dizem que para maior liberdade das investigações. Coisas exigidas pela tal lei dos homens por Ele amados, mas que nem sempre encontra homens que se regem pelo Amor que d'Ele emana. b) Aquela leitura sobre Jesus e o seu Evangelho, de que já vos falei n'O Gaiato — n.º 1940. É que Jesus e o seu Evangelho estão ali analisados pela lupa apaixonada de J. M. Castillo, o teólogo que, aos oitenta anos, pediu licença para deixar a Companhia de Jesus, que tanto dignificou. "Para, com maior liberdade, poder continuar a escrever guiado pelo Espírito de Deus e livrar a Companhia dos problemas que a novidade às vezes implica".
Dar MAIS VIDA à vida ainda viva de Pai Américo... Gosto de pensar estas vidas seminais como vidas/semente que é preciso cultivar. Sinto-o particularmente pela experiência que estou a viver. Depois daquele desafio de P.e Júlio e P.e Baptista, vim para aqui, a tempo inteiro, para colmatar a falta de P.e Baptista. Porque a semente já estava lá. Faltava-lhe era aquele culto, aquele cultivo e aquela cultura a que agora sou urgido. E, assim, nos meus tempos de ser, tempos de deserto e/ou reflexão/meditação (em silêncio e quietude, como Jesus gostava), às vezes dou comigo a sonhar um livro-audio, com uma antologia de frases chave no pensamento de Pai Américo. Devidamente numeradas, organizadas e arrumadas por temáticas. Com um índice remissivo. Talvez tipo Caminho, de José Maria Escrivá — um livro já 510 vezes reeditado , com uma tiragem global de 5 000 000 de exemplares. Traduzido em mais de 50 idiomas diferentes.
No auge da minha juventude, andei de volta do Doutrina a tentar fazer algo semelhante do que hoje sonho para, mantendo mais viva a vida e a Obra de Pai Américo, despertar mais seguidores. (Admiradores continua a ter muitos...).Já nos anos sessenta, com P.e Baptista, conheci as gravações que dele existem. E agora, volta e meia, lá ando eu a ouvir aquela voz peculiar, gaguejada às vezes, mas ainda com aquele escaldar de convicções que não deixa ninguém indiferente. Os 130 anos do seu nascimento mereciam um trabalho de fôlego. O seu amor pelos rapazes, pelos pobres e pelos doentes está a pedir mais do que uma canonizaçãozinha e pronto...
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* Para um crente, uma "coincidência" não é mais do que "um truque que Deus usa para esconder a Sua assinatura"...
Um admirador