BEIRE
A Beleza poisou sobre o Calvário/Beire...
A festa das cores, dos cheiros, dos sons... O mês de Maio chegou e acolheu, em grande festa, a Primavera que já tardava. Porque ela, como nós os velhos, não gosta de frio... Maio é também, ainda para muitos, o "mês de Maria". Para muitos mais, é o mês do "Dia da Mãe". Alguns gostam que se diga "dia das mães". Bom, mas de gostos e de cores não se deve disputar... Certo é que me dá gosto ter olhos e ter coração. Para ver tanta beleza que esguicha para fora desta terra. E, sobre esta terra, nos cai do céu. Num movimento ímpar de descendência e de ascendência. Basta estar atento ao bulir do por dentro e do por fora que emerge e imerge a cada instante. Num incansável milagre de re+NOVA+(ac)ção.
A mata veste-se de verde. Em seus milhentos matizes. De tamanho e cor. De árvore para árvore. De arbusto para arbusto. Num crescer rápido que se capta quase a olho nu. Parece que em sinfonia com as várias tonalidades do cantar de uma miríade de passarinhos que por aqui encontram o seu paraíso. E logo o desabrochar das flores que dão a tudo um colorido encantador. Primeiro, as aleluias — a rebrilhar na brancura do bordado dos nossos caminhos. Uma pincelada tão a gosto de P.e Baptista. O amarelo gema de ovo dos bem-me-queres/mal-me-queres e dos medicinais dentes-de-leão. As macieiras e pereiras, em rosa branco, a cobrir todo o nosso vasto pomar. Os jarros brancos e os lírios arroxeados, que espreitam em todos os cantos da quinta. Idem o desgrenhado das videiras, que começam a vestir-se de verde alface e logo rompe nelas o projecto de um cacho, que a seu tempo...
Respira-se aqui um ambiente altamente terapêutico. Sejam quais forem as maleitas que por cá se arrastam. Não há dúvida — o Senhor fez/faz maravilhas. Pela mão dos homens por Ele amados e por força desta Mãe Natureza que, incessantemente, nos recria. Santo é o Seu Nome. Ele me enche de assombro — ora de olhos abertos ora de olhos fechados. Para ver mais perto / mais fundo. E para ver mais longe que os olhos... É um não me cansar de dar graças. Pela fé que bebi no berço. Pela instrução / formação que recebi/recebo — também da Igreja. Com uma ciência e uma técnica que é preciso aprender e uma arte (c.t.a.) de cultivar a fé, que é preciso deixar livre para desabrochar. Porque estou mesmo convencido (por experiência vivenciada) de que o Espírito derrama os seus insondáveis dons "segundo a fé de cada um". Gosto de lhe chamar Santo, porque sempre O vejo inclinado para o BEM COMUM DA HUMANIDADE — de que hoje tanto se fala, e já tanto urge. Todos o necessitamos. Numa fé que também é "um dom" — mas como grão de mostarda (Mc 4, 26-34; Lc 13, 18-21). Porque todos a recebemos em semente para que cuidemos dela. Como fé culto, com fé cultivo, com fé cultura...
O Pai Bom d'aquela parábola. Fui muito marcado por uma certa teologia culpabilizante, como aconteceu com tanta gente da minha geração. Pregava-se, achava-se bonito, mas parece que não se acreditava lá muito que o Deus revelado em Jesus de Nazaré é o Pai Bom da parábola do "filho pródigo" (Lc 15, 11-32). Que, no dizer dos entendidos, é a coisa mais bonita e mais profunda de todas as antologias da literatura sobre Deus... Não sei discutir isso. Sei é SENTIR isso de um jeito que me enternece. E me mobiliza para o "então vai e faz igual"... (Mt 20, 1-15). Porque, mesmo dentro da cultura ambiente em que fui educado, num meio muito religiosado, tive a sorte de encontrar pessoas seminais. Dessas que, sem cair num criticismo que afasta do bom caminho, nos cativam por dentro. Dessas que sabem pensar e ensinar-nos a pensar. A partir da análise do real — único guia e mestre do nosso pensamento. E foi com gente dessa que comecei a entrar na filosofia e na teologia. Que depois me levaram à psicologia — como ciência, técnica e arte de ir percorrendo os caminhos que levam às inacessíveis respostas à velha pergunta "Quem é / o que é o Homem". Ou dito de outro jeito: — Afinal, quem sou eu ?!... E, o que é que ando para aqui a fazer?! Onde é que isto me leva?!...
A Casa do Gaiato/Beire e o Calvário são desafios... Estas velhas perguntas ainda me seduzem. Aliás, sempre me seduziram. Porque mexem com o mistério do meu existir — aqui e agora. É a idade, é a doce experiência de um permanente buscar respostas jamais acabadas. E, sobretudo nestes últimos 3 anos em que, misteriosamente, a vida me pôs aqui no Calvário / Beire, é como se toda a beleza desta Obra Ímpar (que Pai Américo sonhou e P.e Baptista levantou) me apanhasse por dentro. Em sua visível e misteriosa beleza externa. E mais ainda em sua beleza interna — porque, contras todas as expectativas, a alegria destas duas Casas esguicha até aos olhos dos menos atentos. Só os mal intencionados o não vêem, como lhes é natural — não ver além do próprio umbigo.
Há dias, num rebentar de felicidade por ainda me sentir útil a esta gente, sms'ei assim para P.e Baptista: Bundia, Revcia. Hoje já dei cmigo a DAR GRAÇAS pl seu convite / pedido / desafio para vir colmatar o vazio da s ausência nst inesgotável UNI+versidade. Começo a entender algo da sua incompreendida SABEDORIA.
Um admirador