BEIRE
A Tucha, o Tipé e o Maracujaleiro…
... DE DOENTES, PARA DOENTES, PELOS DOENTES. D'os últimos que nos foram confiados, estes dois são os que ainda trazem consigo mais potencialidades. Que, se bem aproveitadas (empoderadas, diz-se agora...), podem torná-los muitos úteis. Para si próprios e para toda a comunidade de que agora são pertença. Porque numa com+UNI+dade não pode haver outputs... Ou se está dentro (input), dando e recebendo da vida que é peculiar dessa comunidade, ou não se lhe pertence mais. Está-se nela como um corpo estranho - a prejudicar o bom andamento da comunidade.
Vi-os chegar. Pousando neles um olhar de ternura, recordei aqueles versículos da "Sequência do Espírito Santo" - (...) conheces bem o vazio do homem quando, por dentro, se afasta de Ti; conheces o poder do pecado, quando nos mantemos fechados à Tua ajuda.
Ela vinha das valetas da cidade, já uma sem-abrigo, explorada/vitimada pela intemperança de homens que... Hoje, ao vê-la aqui, apaixonada pela criação dos animais, jeitosa nos serviços da copa e no apoio aos doentes, a ser útil e feliz nesta já sua comunidade, lembro uma palavra de Pai Américo sobre estas irmãs nossas: (...) entregam o corpo, na mira de encontrar alguém que as compreenda e lhes acolha a alma.
Ele, saído de um tugúrio onde o esterco humano o ia abafando, vinha já a arrastar as pernas e a língua - vitimado pelo álcool. Deste tipo de doentes sociais sempre podemos fazer duas leituras. Para uns, são farrapos humanos, para quem já não vale a pena olhar. "Estão assim porque não têm cabeça". (...). Mas para outros, são irmãos nossos, a precisar de ajuda. E foi por isso que alguém se apressou a botar-lhes a mão. Bateram à nossa porta. E ela abriu-se-lhes. É para isso que estamos aqui - com eles e convosco, cuja ajuda nos/lhes é imprescindível.
Festejamos com cada um a festa da sua entrada na casa paterna. Porque este Calvário foi concebido para estes — os últimos dos últimos. Somos "um nome tirado do Evangelho". Por isso com um cariz muito peculiar. Obra de doentes, para doentes, pelos doentes. Calvário a caminho, na mira da sua re+surreição. Na mira do seu erguer(-se) dos grilhões do Faraó às alturas da liberdade daquela res sacra (realidade sagrada!) para que todos estamos talhados por nascimento.
Fomos conversando, para que percebam o que temos para lhes dar. Se quiserem tornar(-se) dos nossos. Porque, também no Calvário, "somos a porta aberta". Isto é, não fechamos a porta a quem precisa de entrar. Mas também não impedimos de sair quem sinta que ainda não ou já não é dos nossos. Porque todos gozamos de livre arbítrio. Isso nos faz deuses ou demónios. Até podemos escolher ser desumanos connosco próprios. Para isso não nos faltam razões (sem razão...): — (...) Não é isto que eu pretendo... Não é isto o que eu preciso...
Não passou muito tempo para podermos constatar a verdade do ditado - cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. São remédio salutar para muitas destas maleitas sociais. Ai quem os viu e quem os vê agora! Depois de umas semanitas de residência, a re+surreição começa a ser visível, palpável. E logo nos damos conta de que também já é altura de começar a estar atentos para que a festa não vire desilusão. Atentos para que esta vida nova se mantenha no rumo do sempre MAIS VIDA (Jo 10, 10). Hoje mais que ontem, menos que amanhã...
UM MARACUJALEIRO INFESADO... Entretanto, ali ao lado das Escolas, passo por um maracujaleiro cá da minha estimação. Porque o vira a morrer de sede e abafado por silvas e outras trepadeiras invasoras mais resistentes. Dadas as minhas doces memórias do coração em relação aos maracujás, decidi cuidar dele. Procurei-lhe a raiz, cavei à volta, limpei parasitas, estrumei a terra, reguei. Com abundância e persistência. Vi-o voltar à vida, cobrir-se de flores e frutos. Que alegria vê-lo agradecido pelos meus cuidados. E do nosso Varito, que em cada dia de maior calor, lá ia ele cuidar da rega. Entretanto, chegou o inverno. Parecia que tudo parou. Dava a impressão de que até regredia. Pelas inclemências do tempo. O viço passou e os frutos mais novinhos mirravam e caíam. Mas, porque tive a sorte de nascer no campo e aprender a olhar / escutar a natureza, foi-me fácil acreditar. É tempo de ser esperança...
Um admirador