BEIRE
…E a festa "IN+AUDITA" aconteceu
Já vos contei o que aconteceu com a comunhão inesperada (a primeira e única?!...) da Tinita. Foi também assim um acontecer. Numa manhã de Domingo, depois da Eucaristia. Durante o levar a comunhão aos doentes. E, nessa altura, até vos falei daquele abraço agradecido que saltou do coração da Tinita para o pescoço do P.e Telmo. Ali, na minha frente, debaixo daquela carvalha secular que acolhe o arrancar da rampa que dá para o pavilhão dos doentes. Era a hora de jantar. Ela descia a rampa quando se deparou com ele. (Ver O Gaiato, n.º 1899, de 24-12-16).
Paro-me a saborear o que aconteceu agora no pp dia 22 de Outubro. Era a véspera da festa dos 130 anos do nascer de Pai Américo. Repito que não sei nada lá desses PRO+cessos íntimos que levaram P.e Telmo a brindar-nos com aquela sua iniciativa. Sei é que, quando o vejo agir assim, sempre me lembro de uma conversa que, ocorrida já em 1910, ainda me dá que pensar. É que, para quem lê com atenção os escritos de P.e Telmo, volta e meia esbarra com cenas — pequeninas iniciativas suas — que ultrapassam todas as teologias da treta a que fomos habituados. E de que, talvez por isso, nos custa tanto a sair. Para entender a parábola de Deus/Abba...
2. Era uma homenagem, pelo seu aniversário... Um grupo de amigos e admiradores juntaram-se para celebrar os seus oitenta anos. Uma homenagem bem merecida. Porque, de seu nome Enrique Fabre, ele era o grande entomólogo francês, de fama mundial. De quem o próprio Darwin tinha falado como "o observador incomparável". No auge do entusiasmo do encontro, alguém lhe perguntou se acreditava em Deus. Com um certo bom humor que lhe era peculiar, Enrique Fabre respondeu: - Não. Eu não acredito em Deus. Eu "vejo-O". Em tudo. E em todos os lados.
Quanto mais convivo com P.e Telmo, quanto mais mastigo as suas crónicas e saboreio os seus escritos, mais penso/sinto que P.e Telmo também já não acredita em Deus... Ele já O vê. Em tudo. Nas flores mais modestas. Nas árvores vestidas de Outono. - Que lindas!... Vê-O em cada um destes rapazes, em cada um destes doentes. - São mesmo uns santos. Podiam comungar todos os dias. E, contra o pesar de algumas pessoas que também têm direito a ter opinião contrária, a festa IN+AUDITA aconteceu. Ali, aos olhos de toda aquela gente que, inesperadamente, encheu a nossa capela do Calvário, à hora da Eucaristia de Domingo. Se quiserem ver fotos e ouvir uma gravação, vejam a net. O nosso repórter, Alberto Carneiro, (o Resende!, daqueles tempos de meninos e moços) brindou-nos com umas bonitas imagens.
3. A sabedoria do saber "arriscar"... O inaudito aconteceu porque alguém arriscou. Na arte de "ver" o Deus Vivo nos corpos disformes de um Faneca, um Xiko, uma Rosita, uma Luisinha. Ou em tantos dos comportamentos anómalos de uma Rosa, um Júlio, uma Linita, Dete, Isabel, Carmito. Gente que tanto nos põe de boca aberta a admirar o seu jeito e ajuda tão útil num trabalho de que são capazes como logo nos desaponta, porque lhes deu uma telha dos diabos ou ficam para ali pasmados, de volta do próprio umbigo. A arranjar-se como uma rainha do ferro velho. A divertir-se no pôr e tirar bugigangas que lhes dão.
Quando digo que a festa foi "IN+AUDITA", é porque nunca antes naquela capela alguém viu nem ouviu nada assim do que ali aconteceu. Tempos antes, a menina Alice, a nossa invisual que aqui cresceu e, a seu nível, se tornou adulta na fé, fez de catequista. — (...) Já estão preparadas! Já sabem a doutrina!... E explicava: - O que nos deram a nós, temos obrigação de o dar aos outros. Rosa (43 anos) e Luisinha (40 anos) são duas pessoas com acentuada deficiência mental, mas são pessoas. Com muitas manifestações de que também são gente... Mereciam uma festa da Primeira Comunhão... As Irmãs Franciscanas, reunidas para o Plano Anual de Actividades, ali no vizinho Colégio de Bairros, brindaram-nos com a sua presença (umas 18!), para animar a Eucaristia. Com instrumentos e ritmos africanos e tudo.
E logo houve quem preparasse uma roupinha para distinguir o dia. Quem pensasse n'uma comidinha especial. E num bolinho da festa... Recordo verdades de grande sabedoria. Do que vi e ouvi, cada vez acredito mais que também nas pessoas com deficiências a alma é sempre perfeita. Capazes de com+UNI(h)+ão!!!
Um admirador