BEIRE
Da original capela do Calvário para…
A SEU TEMPO, A FESTA ACONTECEU. Gosto de pensar que o dogma da Assumpção de Maria ao Céu "representa a expressão suprema que a religião faz do feminino". Esse Divino Feminino que pulsa no coração de cada ser humano e que o impulsiona para a Verdade, para a Beleza, para a Bondade — apanágio da divindade. E para as obras desta natureza. Bem como para todo o verdadeiro voluntariado que lhes dá mais vida e vida em abundância. Preciso é que cada homem e cada mulher — a começar por mim - deixe que esse Divino Feminino se lhes faça sentir e o ponham em prática — por palavras, actos e omissões.
Acabada a Missa, depois da Comunhão aos doentes acamados, começou a grande azáfama. O chegar do andor para entronizar na capela, de onde sairá em procissão. As bandeiras da Irmandade que abrilhantam o acto. Os cabos eléctricos e uma coluna de som que emitirá músicas de ambiente chamativo... E os relatos que andam de boca em boca: — Vai haver uma festa!... A novidade atrai todo o mundo. Dá mais vida à vida de quem a tem já tão monótona. Tudo o que seja quebrar o rame-rame dos dias de quem sofre as limitações que os mantêm aqui detidos são sempre um acontecimento... Cada um conta um conto. Sempre com o seu novo ponto, à sua cor e medida... E eu entendo melhor que "uma vida sem aventura, sem surpresas, pode tornar-se um fardo pesado" — mesmo que se esteja de boa saúde física.
O dia estava ameno. O sol começava a declinar. Com um céu azul, a debruar de oiro o verde das vetustas carvalhas da nossa mata. Pouco depois do almoço, os doentes, mesmo os de cadeiras de rodas, tiveram quem os descesse até ao cruzeiro, defronte da capela, a formar uma colorida meia lua, em frente à escadaria. Para melhor observar tudo o que iria passar-se. A porta, aberta de par em par, já estava assinalada com a bandeira da Irmandade. Lá dentro, podia ver-se o andor do Coração de Maria prontinho para sair. Todo ele era um cântico de amor e de louvor a Maria. E da arte dos arranjos florais. Entretanto, há um grupo que vai urdindo um tapete de flores e "tecidos", desde o portão ao sopé da escadaria. A coluna de som enche os ares com uma doce e discreta música mariana.
Perto das 18:00h, chegou o Senhor Abade. O nosso P.e Telmo, já vestido a rigor para este solene Acto Litúrgico, acompanhou a descida do andor. Cá em baixo houve uma calorosa saudação a N.a Senhora, sob invocação de seu Coração Imaculado. Com uma palavrinha especial para os nossos doentes e rapazes que, a seu tempo, seguiriam o andor até à Igreja. Caras felizes, em corpos de muito sofrimento. E não faltaram lágrimas teimosas a escorrer pela cara abaixo dos mais sensíveis.
OS ECOS QUE NOS VÃO CHEGANDO. — "(...) Até o senhor Padre disse que foi a festa mais bonita que já teve. - Eu chorei, mas era de alegria. — As pessoas gostaram muito. Ficaram, admiradas de ver os nossos doentes tão bem tratados, arranjadinhos e felizes. — Algumas pessoas não conheciam nada disto aqui. Nunca tinham cá entrado nem conheciam a capela. Ficaram encantadas. — Muitos não sabiam que temos um jornal e quiseram fazer-se assinantes"...
Bendita a hora daquela iniciativa da equipa da Junta de Freguesia. Daquele SIM do nosso Pe Telmo. Abençoado o trabalho de quem fez toda aquela preparação. Acredito que, se nem um copo de água dado a um destes mais pequeninos fica sem recompensa (Mt 10,42), também este proporcionar assim tanta alegria sobre quem dela tanto precisa terá os seus cem por um aqui na terra e... (Mt 19,30).
Um admirador