Beire

A Paz vai correndo como um rio...

(...) QUERO É QUE OS DOENTES E RAPAZES... Telefonou a dizer que precisava de conversar. Queria desfazer confusões que a assustavam. Por falta de ideias claras, no meio de alguma boataria, sobre as mudanças no Calvário. Precisava reencontrar aquela Paz que - diz-no-lo muitas vezes - sempre leva daqui. A cada vez que, primeiro na preparação lá em casa e depois cá dentro, entre os residentes, lhe ressalta de se sentir a prestar um serviço que, em total gratuidade, dedica a esta Grande Causa. Porque já sabe ver a Causa dos Pobres como a Grande Causa de Deus. É a sua sabedoria de mulher crente e empenhada no Projecto Humanizador de Jesus.

Ali, ao telefone, aquela voluntária, talvez sem disso ter grande consciência, testemunhou aquilo que é o corolário de todas as leis das relações interpessoais:

a) Ninguém pode evitar ser influenciado pelo comportamento dos outros. Se ele é realista, adequado, conforme ao aqui e agora, esse comportamento gera paz e harmonia. Ajuda-nos a crescer - como cidadãos e como crentes. Mas, se é irrealista, inadequado e fruto de estereótipos de murmurações e maledicências, gera confusão, mal-estar, revolta e falta de paz.

b) Todo o mundo pode evitar ser determinado pelo comportamento dos outros. Como se houvera algum destino superior (determinismo!...) que nos obrigasse a ir por ali. Não. Porque os outros não estão dentro da nossa cabeça. Somos sempre nós os responsáveis pelas nossas decisões - as acertadas, que nos conectam com a realidade e as outras, as que nos afastam dela e nos criam fantasmas que dão cabo de nós e das nossas relações com o mundo à nossa volta.

A ARTE DE FALAR E DE CALAR... Marcamos dia e hora. Veio. Conversamos. Procurando fazê-lo com uma inteligência sensível e um coração inteligente... (Ver I Reis 3-4). Como quem intui que "amar não é olhar um para o outro, mas ambos na mesma direção" (Exupery). COM+versar / dialogar / Amar! Num exercício mútuo de acerto, de busca da verdade real que nos ultrapassa e sempre chama por nós. Para nos UNIR - longe dessa pós-verdade que tanto anda na moda, tanto nos divide e tanto vai minando a nossa juventude. Porque nos fecha em nós mesmos. Encandeados pelos falsos brilhos do nosso próprio umbigo. Como se cada um fosse dono e senhor de toda a verdade. Incapacitando-nos para COM+versar / COM+vergir na mesma direção (mesmo verso, desse UNI+verso de que todos somos parte...). Incapacitando-nos para ver mais longe. Lá onde a com+UNI(h)+ão é. E com ela a Paz. Porque para isso (para a comunhão!) estamos talhados por nascimento.

Fez-se-nos luz. Porque "com o passaporte da verdade não haverá caminhos intransponíveis". Ambos saímos revitalizados desta nossa conversa esclarecedora. O Senhor está connosco. Aleluia.

PORQUE O AMOR É "DIFUSIVUM SUI"... Pouco depois voltou a telefonar. Queria um novo encontro. Agora com mais duas ou três voluntárias. Porque «fulana e sicrana estão muito baralhadas. E seria uma pena perdê-las. São muito boas voluntárias. Os rapazes e doentes gostam muito delas e andam sempre a perguntar quando vêm».

Enquanto espero o tal encontro já mais alargado, fico-me a remoer a Força do Amor. Que, de sua própria natureza, é como o perfume - difusivum sui. Isto é, tende a espraiar-se. Comunicar-se. Como, aliás, é apanágio de Deus - de que é a ESSÊNCIA, no dizer autorizado de João Evangelista: Deus é Amor. Deus é com+UNI+dade. Não pode viver fechado em si mesmo. Tem de dar o que tem de melhor. Por isso nos deu o Seu Filho Unigénito - Jesus de Nazaré. E nós, que nascemos revestidos da Sua bondade, quando nos deixamos ser aquilo para que estamos talhados, somos também assim: gostamos de nos expandir em festa para os outros.

Por isso é que esta voluntária quer que O BEM de que disfruta se derrame pelas colegas de doação voluntária a esta Grande Causa.

No silêncio e quietude desta hora em que escrevo, apetece-me cantar: A paz vai correndo como um rio // Vai correndo de mão para mão // Vai correndo para o deserto // Libertando o meu irmão...

Um admirador