BEIRE - Flash's
Calvário é 'Família'...
1 - A Festa da 'Sagrada Família'... Nos meus privilegiados momentos de 'silêncio e quietude', dou comigo muitas vezes a revisitar os meus conceitos de família. Revisitar para mais e melhor poder alargar os meus 'campos de consciência' d'o que é e o que não é 'ser família'. Lembro o apelo de S. João Paulo II - Família, torna-te aquilo que és. Nestes momentos, dou-me conta de que, em mim, se vão alargando os horizontes do meu próprio ser família. Em fidelidade a+aquilo para que estou 'talhado por nascimento'. (Acredito que todos estamos talhados para ISSO - cada um com a sua própria identidade1). Porque a família, por mais que (in)evolua, ela continua a ser 'a célula da sociedade' - célula de boa saúde ou célula atacada de cancro degenerativo... Mas, por mais que a ataquem e a degradem, a família continua a ser 'a pátria do coração'... Daí que, no meio desta pandemonia toda, as pessoas continuam a querer (com)viver juntas - um distintivo d'o que é ser família.
Hoje é a Festa da Sagrada Família. Uma oportunidade para nova visita a este conceito que prezo. Guiado por um amadurecido teólogo da 'religião de Jesus', em comentário ao Evangelho do dia, gosto da ajuda que me dá para entender melhor este nosso Calvário - Uma palavra tirada do Evangelho, no ler de Pai Américo. Sei que, para um laico, isto para nós não diz nada... Compreende-se. Tão cioso d'o que é seu, César (o Estado de hoje) não consegue ver, reconhecer nem aceitar o que é de Deus. Revelado na Boa Notícia trazida por Jesus de Nazaré (Mc 16, 15-18).
Leio e releio: "... A Igreja propõe aos cristãos a recordação da família de Jesus como modelo cabal e o melhor exemplo do que deve ser uma família perfeita. Isto tem a sua lógica. Porque, se estamos a recordar a Virgem Maria, S. José e o Menino Jesus, que família mais exemplar podemos propor aos cristãos e, em geral, a qualquer sociedade donde a instituição familiar esteja vigente? Isto parece bastante razoável, se se pensa a partir das convicções de um crente. Mas para além de tudo isso, levanta-se-nos aqui um problema. A 'idealização' da 'Sagrada Família' é isso mesmo - uma humana representação ideal. E será que este ideal corresponde à realidade? Ou corresponde só à realidade-ideal que as pessoas de mentalidade mais conservadora gostariam que fosse o real?
Para quem gosta de ver o Jesus da História, o Filho do Carpinteiro (Mt 13, 55) - como tanto gostava Pai Américo - não podemos ir muito em 'idealizações' que desumanizem Jesus... Precisamos de, como eles (Jesus e Pai Américo), pôr os pezinhos bem assentes na terra. Porque é aí onde vivem os 'homens, que Deus ama' (Lc 2, 14). Para, como eles (Jesus e Pai Américo), podermos amar também as pessoas reais, sobretudo aquelas que mais necessitam do nosso amor - gratuito e abnegado.
2 - Não se pode dizer 'família' sem... É verdade que, tal como Abba - Pai/Mãe -, também Pai Américo, muitas vezes, se viu obrigado a ser mãe dos filhos sem ela e a precisarem dela com urgência. Também Pai Américo delirava quando via algum dos seus rapazes mais velhitos a cuidar dos pequeninos com jeitos de mãe. Basta ler com atenção o Isto é a Casa do Gaiato. Também no Calvário, tantas vezes como em qualquer Casa do Gaiato, isso sucede hoje. Já vo-lo tenho relatado. E é preciso e é bom que tal aconteça. Mas nada disso invalida a necessidade de Uma Mãe para o Calvário... Sem Mãe não podemos idealizar. Fazer as nossas humanas representações da 'família sagrada' que somos chamados a construir. E a reconstruir em cada dia que aqui começa.
Gostava de arriscar um 'perfil de mãe' para o Calvário de hoje. Com uma direcção técnica e tudo o mais que César exige de Deus. E que Deus nunca lhe nega, porque assim lhO exige a acção teológica que toda a acção social é - hoje e sempre. Se bem dirigida, ao serviço dos mais desamparados.
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1 - Identidade. Isto é, em sintonia com o seu próprio ser. Do latim id - o próprio e entis=ser, marcado pelas circunstâncias em que desabrocha.
Um admirador