ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS GAIATOS E FAMILIARES DO NORTE
CAMINHADA DO REGRESSO
Anos depois, chega o Gaiato ao portão:
- Meu Deus, como o tempo passa!
- Foi esta Casa que me deu a mão
E em criança me salvou da desgraça!
Ele entra. Vira à d.ta pros currais.
- Isto está diferente de antigamente:
- Tinha porcos e vacas, tantos animais
Que davam carne e leite pra gente!
Agora sobe pela avenida...asfaltada.
À esquerda, em cima, jogava à bola.
Fez calos nas mãos com tanta carrada
A trazer o saibro com a padiola.
Vê uma fonte linda, logo ali à mão,
E reconhece o busto, do tanque da horta:
- Deita tão fresquinha como a de S. João
Para quem cá vive ou entra aquela porta!
Põe-se a olhar pra mata. Quem desdenha
As vezes que subiu e tornou a descer:
- Fiz parte do "Grupo" que trazia a lenha
Pro forno do pão que íamos comer!
- É a 2ª tipografia. Que orgulho sinto
Quando recebo o jornal, quinzenalmente!
E sabe que ainda lá está o Manel Pinto,
Um Gaiato "exemplo" para toda a gente!
Olha por momentos os Dormitórios:
- Fui da Casa 4...fui da Casa 3...
Continuam lindas como Oratórios;
Pai Américo quis, Teixeira Lopes fez!
- O pomar está vedado com redes...
- Há hoje precaução que se tome.
- Quando era criança fui às frutas verdes,
Um vício da rua!...não era por fome!
E o Gaiato segue pela avenida
E para nas Alminhas. No fundo
Ele chora os irmãos de uma vida
Mas que já partiram deste Mundo!
Em lágrimas, chega à «Casa-Mãe».
Em lágrimas, chega à «Casa-Mãe».
Põe-se a lembrar das Senhoras, do carinho!
Naquele tempo era ele e mais de cem
Todos no refeitório...com pão e leitinho!
- Hei pá... foi ali a minha Escola!
Agora, é museu...que esse tempo foge.
Trazia uma ardósia e sebenta na sacola
Para aprender aquilo que sabe hoje!
Fica agora a contemplar o Cruzeiro:
- Quando eu era chamado a "tribunal"
Retirava como ilação primeiro
Que só com o BEM se corrige... o mal!
Sobe os degraus e entra na Capela:
- Que Sagrado é pra mim este lugar!
- Que Divina!...simples e tão bela!
- Foi aqui que aprendi a rezar!
E o Gaiato, naquela hora
Ergue ao Céu as suas mãos
E pede à Nossa Senhora
Paz e Amor para os irmãos!
Este Gaiato, na verdade
É pobre...mas é feliz.
Porque entendeu a «Humildade»
Como S. Francisco de Assis!
Ser Gaiato... tem magia:
Ele vem à Casa onde viveu
Festejar com alegria
O Dia do Pai, lá no Céu!
Um Gaiato que agradece
Aos Padres da Obra da Rua
Essa Missão que enaltece:
Guiar a «Casa» que foi sua!
Porque um Gaiato, verdadeiro,
Jamais se pode esquecer
Que do "nome" é um herdeiro
E vai com ele até morrer!
(Contada por um Gaiato no regresso a Paço de Sousa, onde viveu, e que o interlocutor descreve em fórmula...poética)
Elísio Humberto