História 

Lar do Gaiato do Porto

Obra da Rua - Obra do padre Américo (in Obra da Rua)
Foi nos derradeiros tempos de 1944. A necessidade de uma residência no Porto fazia-se sentir. Tínhamos já examinado outras casas, noutras ruas, mas nenhuma como esta da Rua D. João IV oferecia vantagens e conveniências.
Num instante se deram as voltas do estilo e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, a quem pertence a vivenda, disse sim. Comprou-se mobília adequada. Arranjou-se governante idónea. Regulou-se a questão dos abastecimentos com o Delegado da Intendência dos mesmos, que nestes tempos de fortuna de dinheiro chegou a fome de pão.
Uma vez colocadas as coisas no seu sítio, foram ocupar também o seu, na nossa residência, os pioneiros da Obra. Entrámos no dia 3 de Fevereiro de 1945. (Em Janeiro de 1940 tinham entrado na Casa do Gaiato de Miranda do Corvo os primeiros gaiatos. Em 24 de Abril de 1943, na de Paço de Sousa - O GAIATO da época deu a comunicação:
«Há pouco mais de um ano que um grupo de três ex-distintos alunos da rua acenderam lume novo na chama da Casa do Gaiato de Coimbra e vieram de lá com ele em brasa, fundar a Casa do Gaiato do Porto. Pois um desses mesmos que então veio e mais dois dos que ao depois vieram, levaram hoje lume de cá e foram acender com ele a sucursal do Porto.
Lume novo. Palavra nova. Transfiguração do 'Lixo das ruas'.
É possível, até, que pela força desta luz haja quem a não possa encarar, cerrando os olhos como outrora fizeram os Discípulos do Mestre. É possível. Quisera eu que ao abri-los em franco despertar, não vissem neste Tabor senão somente Jesus, tal qual os Apóstolos! Sim, digo bem, transfiguração! Só a Caridade é capaz de realizar este prodígio - a verdadeira, tal como se encontra em gema no seio do próprio Deus. Aquela mesma que não sofre nem admite caricaturas, tal como a falsa que se encontra nas testas do suposto bem-fazer.
Senhor, eu acredito no amor porque creio na justiça, na Vossa justiça imanente. É impossível que este 'lixo' social não se venha mais tarde a levantar contra nós, por força dessa mesma justiça, se hoje o não levantamos.»
Na vivenda podemos instalar convenientemente uns 35 gaiatos, dos que estudam e dos que trabalham no Comércio e na Indústria, A nossa divisa, nesta, é absolutamente conforme às mais Casas: Obra deles, para eles, por eles.
Como a tendência da Obra é que sejam os próprios rapazes a conduzi-la, tem-se tido o cuidado de aproveitar os mais inteligentes de entre eles e dar-lhes um curso superior. Não é que queiramos fazer doutores, mas acreditamos absolutamente na competência e na supremacia do espírito; oferecemos mesmo todas as vantagens às vocações intelectuais que a Rua nos apresenta e procuramos equilibrar as suas dificuldades.